Foi a frase ouvida de muitos dirigentes europeus na alvorada do dia de 24 de junho, quando o Mundo acordou surpreendido pela decisão da maioria dos britânicos - largar o barco da União Europeia (UE) - é uma oportunidade para refundar a Europa.
Ontem, depois de dias a evidenciar o tom perentório do "querem sair, saiam depressa", os líderes de três das maiores potências do clube dos (ainda) 28 juntaram-se em Berlim para preparar o Conselho Europeu de hoje - e anunciaram a intenção de relançar a construção europeia.
"A UE É A MULHER ENGANADA E AGORA QUER CORRER COM O MARIDO TRAIDOR"
O tom suavizou-se e pautou-se pelo respeito da decisão britânica (que ainda tem muito que andar para se concretizar, mas já lá vamos), ainda que se imponha "não perder tempo" para começar a trabalhar na resposta ao futuro pós-Brexit. Disse François Hollande, presidente da França, que ali se juntara com o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi e a chanceler alemã Angela Merkel.
Ficou prometida uma proposta aos restantes 24 para dar à UE "um novo impulso em diferentes domínios ao longo dos próximos meses", resumiu Merkel, apontando a defesa, o crescimento, o emprego e a competitividade. E designando três prioridades: "a segurança interna e externa" (defesa europeia e vigilância das fronteiras externas), uma "economia forte e uma coesão social forte"; "programas ambiciosos para a juventude". E sim, Merkel também largou o discurso do "tenhamos calma, temos tempo", avisando ontem que não se podia deixar "as coisas arrastarem-se", ainda que a UE só se possa mexer depois de Londres formalizar a saída.
Na tentativa de acelerar as ditas "coisas", o Parlamento Europeu fez ontem saber que aprovará hoje, antes da reunião do Conselho Europeu, uma resolução pedindo a "ativação imediata", pelo Reino Unido, do artigo 50.º do Tratado de Lisboa, que regula a saída de um estado-membro da UE. Importa "prevenir a incerteza para todos e proteger a integridade da União", pelo que o demissionários primeiro-ministro britânico é instado a notificar os outros 27 já hoje, no conclave europeu.
Haverá mesmo Brexit?
Ora aí está o problema: ao cabo de quatro dias de terramoto - que continua com réplicas horárias num Reino Unido com o sistema partidário ao rubro -, os analistas começam a duvidar de que alguma vez o botão do maldito artigo 50.º seja premido.
Cameron atirou logo o ónus da questão de colocar o Reino Unido num futuro muito incerto para o seu sucessor. E atirou a sucessão para lá longe, depois do congresso do seu Partido Conservador, já marcado para outubro. E o que se segue a isso é a incerteza económica - a reação dos mercados tem-no provado - e, sobretudo, do mapa britânico.
O mapa em causa
A Escócia do petróleo disse prontamente que voltaria a referendar a pertença ao Reino Unido (que fora confirmada em 2014 precisamente com o argumento de que sair do Reino poderia ser sair da UE) e ameaça, no mínimo, incomodar com um veto ao Brexit no seu parlamento (com base na premissa constitucional de que deve respeitar a legislação comunitária) - argumento que divide. E a Irlanda do Norte é marcadamente pró-europeia, ainda que tenha mantida afastada para já a hipótese de secessão.
"O Governo britânico não invocará o artigo 50.º por enquanto. É nossa decisão soberana, compete à Grã--Bretanha, e só a ela, tomá-la", disse ontem Cameron, na premeria intervenção pós-referendo no parlamento. E disse que não quer virar costas à Europa, nem ao Mundo.
Resta, para lá disto, a possibilidade real de o Parlamento britânico vetar o referendo. Mas estarão quatro centenas de deputados prontos a fazer tábua rasa da decisão de 17,4 milhões de cidadãos?
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