Se, no Roda Viva, Bolsonaro já se saiu razoavelmente bem (embora eu ache que ele poderia ter tirado melhor proveito de algumas situações naquele programa), ontem na sabatina da GloboNews o sujeito deu um verdadeiro show! De longe, foi a melhor participação do candidato na TV até aqui. A impressão que tive, inclusive, foi a de que ele ainda não digeriu a covardia ocorrida no Roda Viva, de modo que chegou aos estúdios daGlobo com sangue nos olhos e o "dane-se" ligado no piloto automático, pois claramente não só expressou a espontaneidade de sempre, como se divertiu um bocado.
Partiu para o ataque em vários instantes (ao invés de ficar apenas se defendendo sob o trauma de ser mal interpretado, conforme vinha procedendo há algum tempo), usou de ironia nos momentos certos (e foi engraçadíssimo), não parou de falar quando tentavam lhe cortar o raciocínio (pelo contrário, aumentava ainda mais o tom de voz), foi incisivo em ressaltar quando havia alguma falácia embutida na pergunta (ou malícia da parte dos jornalistas); deu aula nos tópicos que domina; e demonstrou conhecer satisfatoriamente bem de economia, desde que lhe indaguem sobre temas específicos, isto é, com os quais naturalmente já tenha certa familiaridade (combustível, privatização, agronegócio...), em lugar de maldosamente lhe cobrarem um conhecimento holístico do assunto.
Destaque para o momento em que os entrevistadores ensaiaram reiniciar a batida na tecla do tópico "período militar". Digo que "ensaiaram" porque, sem pestanejar, Bolsonaro novamente declamou aquele editorial do Roberto Marinho em apoio aos militares de 1964. Não que isso tenha sido exatamente uma novidade, afinal, o candidato sempre faz isso quando é questionado a respeito. A diferença é que, dessa vez, a declaração foi dada no interior da própria Rede Globo, fato que levou Miriam Leitão a trocar a pauta da conversa na mesma hora convenientemente copiando uma frase dita por Bolsonaro no Roda Viva ao levantar que precisamos "olhar para o futuro". Claro, claro... bastou o candidato invocar o nome do fundador da emissora para que, de repente, falar sobre "ditadura militar" virasse "coisa do passado"... E, para completar a festa, de maneira completamente improvisada (e atabalhoada) a mediadora, ao término da sabatina, leu um editorial do jornal O Globo de 2013 no qual foi feito um pedido de desculpas extremamente cara de pau (e muito cínico) em decorrência do episódio vivido por Roberto Marinho (que morreu "só" 10 anos antes da tal reparação). Enfim, constrangimento mais impagável do que esse para aquela corja, só na hora em que Bolsonaro declarou que, se fosse homofóbico, não estaria sentado naquele estúdio.
Justiça seja feita, ao menos nessa sabatina, diferente do que houve na TV Cultura, havia um indivíduo aparentemente neutro, ou seja, alguém que, no mínimo, não estava preocupado em descredibilizar o candidato; mas em extrair respostas dele com perguntas, de certo modo, até inteligentes: Fernando Gabeira (coincidência ou não, trata-se de um cara que, já há alguns anos, vem se dizendo fora da esquerda).
Por
Leandro Pereira
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