Com
seu clima seco e altitude elevada, o deserto do Atacama, no Chile, é um
dos melhores locais da Terra para observar as estrelas. Não à toa, a
região abrigará, em breve, o maior telescópio do mundo. O equipamento,
dizem os cientistas, será capaz de detectar sinais de vida na atmosfera de outros planetas.
Mas não é apenas o céu do Atacama que revolucionará a busca por vida extraterrestre — o solo da região também. Conhecido como o lugar mais seco do mundo
e alvo de níveis incríveis de radiação ultravioleta, o deserto é o mais
próximo que podemos chegar de Marte sem de fato ir até o Planeta
Vermelho.
Por esse motivo, a NASA tem organizado expedições
ao deserto a fim de testar os novos instrumentos de detecção de vida
que serão utilizados nas futuras missões em Marte. O último desses
projetos — o Atacama Rover Astrobiology Drilling Studies(mais conhecido
como ARADS) — acabou de encerrar sua primeira missão na Estação de
Yungay, onde as condições climáticas são muito semelhantes as de Marte.
Para
compreender as particularidades do equipamento de detecção de vida da
NASA, a equipe ARADS passou um mês desbravando a região seca e inóspita.
Durante a estadia, pesquisadores fizeram testes com um protótipo de
broca semelhante ao que será usado em Marte,um Detector de Sinais de
Vida (SOLID, na sigla original) criado na Espanha e um modelo do
Laboratório de Química Líquida (WCL) incluso na sonda Phoenix, que
pousou na superfície de Marte em 2008.
Pesquisadores da equipe ARADS examinam amostras do solo retiradas de uma escavação científica de 2m². Crédito: NASA
“Testar
equipamentos de detecção de vida em um ambiente análogo a Marte nos
ajudará a pensar em novas formas de detectar a existência, atual ou
passada, de vida em Marte", disse Brian Glass, pesquisador-chefe do
projeto ARADS, em um comunicado oficial da NASA.
“O
acesso ao subsolo e a otimização da mobilidade na superfície irão
aumentar o número de biomarcadores e de áreas analisados no Atacama".
Durante
a viagem, a equipe analisou três áreas: Yungay, Salar Grande e Maria
Elena. A região de Yungay tem sido foco de estudos astrobiológicos há
mais de uma década graças às suas condições incrivelmente hostis. Em
2003, pesquisadoresutilizaram os mesmos detectores de vida
acoplados às sondas VIKING, lançadas em 1975, e descobriram a mesma
quantidade de material biológico encontrado pelos detectores originais
no solo marciano — zero. Considerando que mesmo as regiões mais inóspitas da
Antártica possuem micróbios extremófilos, a esterilidade total de
Yungay faz dessa região uma área importantíssima para a astrobiologia.
Salar Grande, por sua vez, é uma planície de sal reluzente, enquanto Maria Elena, a terceira região estudada, é ainda mais seca
e inóspita que Yungay. Está claro que a equipe ARADS possui ao seu
dispor uma série de locais extraordinários para testar seus equipamentos
caça-marcianos.
Os
pesquisadores visitarão o Atacama ao longo dos próximos quatro anos
para testar brocas, kits de detecção e sondas. Além disso, eles têm como
objetivo aperfeiçoar o processo de localização de organismos
extremófilos e o procesos de distinção entre fatores bióticos e
abióticos.
Depois,
claro, as futuras versões desses equipamentos desbravarão os desertos
de Marte, repetindo o trabalho dos pesquisadores aqui da Terra. Esses
esforços poderão resultar na primeira evidência de vida fora de nosso
planeta.
Caso
isso não aconteça, podemos apostar nos astrônomos do Atacama: com ajuda
dos super-telescópios instalados no deserto, esses cientistas podem
descobrir evidências concretas da existência de vida em planetas
distantes.
Se
isso irá de fato acontecer, só o tempo dirá. No entanto, não podemos
negar que esse deserto chileno está se revelando uma peça essencial na
busca por vida extraterrestre.
Tradução: Ananda Pieratti
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