Declarações controversas são ignoradas pela mídia, que destaca apenas “guerra com conservadores”
Em um discurso enfático, o Papa Francisco negou a existência do terrorismo islâmico, ao mesmo tempo afirmou que “a crise ecológica é real”. Redigido no dia 10 de fevereiro, foi enviado ao “Encontro Mundial de Movimentos Populares”, que acontece na Califórnia entre os dias 16 e 18. A íntegra do documento pode ser lida aqui.
Além de saudar os movimentos populares, na maioria apoiados por bispos católicos, o pontífice faz uma avaliação que carece de embasamento histórico. “Nenhuma religião é terrorista. O terrorismo cristão não existe, o terrorismo judaico não existe e o terrorismo muçulmano não existe… são generalizações intolerantes que os fortalecem, baseadas em ódio e xenofobia”.
O site conservador Breitbart foi um dos poucos que deu espaço para as declarações, amplamente ignoradas pela grande mídia. O artigo assinado pelo teólogo católico, autor e conferencista Thomas D. Williams, faz uma minuciosa avaliação da mensagem de Francisco.
“Suas palavras sugerem que não existe no mundo uma forma especificamente islâmica de terrorismo, essa afirmação está em flagrante contradição com os fatos estabelecidos. Francisco dá a entender em outro trecho que o terrorismo é principalmente resultado de desigualdades econômicas e não de crenças religiosas”, afirma Williams.
De modo geral, o papa reiterou novamente sua convicção de que todas as religiões promovem a paz e que o perigo da radicalização violenta existe igualmente em todas as religiões.
O que mais chamou atenção de Williams, e deve causar o mesmo efeito em qualquer leitor atento é o contraste na linha de raciocínio que, no parágrafo anterior do documento, defende a “Mãe Terra”, e condena a negação do aquecimento global, afirmando que “a crise ecológica é real”.
Para tal, Francisco enfatiza a existência de um “consenso científico muito sólido” sobre o tema. Mas quando nega a existência do terrorismo islâmico, algumas linhas depois, fecha os olhos para as contínuas reportagens, fotos e vídeos que mostram a motivação religiosa dos atos terroristas em todos os continentes.
O contraste é maior quando ele pede que “líderes religiosos e líderes políticos ajam para defender a Criação”, mas propõe que o terrorismo seja “confrontado com amor, para se chegar a paz”.
A mídia esquerdista imediatamente politizou o discurso, ignorando o aspecto religioso e dando destaque apenas a menção política. O Guardian foi o primeiro a alegar que o papa estava apoiando “protestos anti-Trump”, apesar de o próprio Francisco ter negado tal afirmação, declarando explicitamente que “não estou falando de ninguém em particular.”
Na versão em português, a agência de notícias do Vaticano deu destaque apenas ao uso da parábola do Samaritano para estimular a preocupação com os mais pobres.
Guerra com conservadores
Enquanto isso, no Vaticano, há uma disputa acirrada entre os críticos de Francisco e os que apoiam a postura liberal do pontífice. “Cardeais respaldam papa Francisco e expõem guerra com conservadores”, anuncia a manchete do jornal progressista El País.
O fato é que muitas das declarações do atual pontífice contrastam claramente com seu antecessor. Em 2006, Bento 16 fez uma palestra na Alemanha intitulada “Fé, Razão e a Universidade”, onde citou a frase do imperador bizantino Manuel 2º Paleologus: “Mostre-me o que Maomé trouxe de novo, e lá você encontrará apenas coisas más e desumanas, como o seu comando de espalhar pela espada a fé que ele pregava”.
A declaração, foi repudiada em todo o mundo muçulmano, levando a uma série de protestos em países e comunidades islâmicas. Onze anos atrás não existia o Estado Islâmico, cristãos não estavam sendo decapitados sistematicamente em nome de Allah e o cenário mundial era bem diferente.
Mas algo é claro: de lá pra cá não houve nenhum atentado terrorista realizado por cristãos ou judeus em nome de sua religião.
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