A versão sintética da droga, 85 vezes mais potente que a maconha da planta, provocou efeito "zumbi" em usuários americanos
A maconha sintética, conhecia como Spice ou K2, tem se popularizado nos EUA e preocupa especialistas e autoridades por causar um efeito 'zumbi' nos usuários, que ficam imunes à dor e com uma força sobre humana. (Divulgação)
A maconha sintética tem preocupado autoridade por causar efeitos ‘zumbi’ em seus usuários. Agora, um novo estudo mostra que a droga é 85 vezes mais potente do que a maconha natural. A pesquisa veio após dezenas de pessoas entraram em colapso em uma calçada do Brooklyn, em Nova York, nos Estados Unidos, durante cerca de 11 horas no dia 12 de julho, segundo informações da rede americana CNN.
A droga, conhecida como ‘spice’ ou ‘K2’, é conhecida por deixar seus usuários com uma força sobre-humana e resistentes à dor, daí seu efeito ‘zumbi’. Logo após o episódio no Brooklyn, as autoridades suspeitaram do uso do entorpecente. Mas isso só ficou comprovado após uma análise feita por pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Francisco publicada recentemente na revista científica The New England Journal of Medicine.
No estudo, Roy Gerona, professor assistente do laboratório de toxicologia clínica e bio monitoramento ambiental, analisou um pacote encontrado no local com o nome de “AK-47 24 Karat Gold”, além de amostras de sangue e urina de oito pacientes.
Como os pesquisadores não sabiam exatamente qual substância procurar no pacote, eles realizaram um teste chamado espectrometria de massa e identificaram um canabinoide sintético conhecido como AMB-FUBINACA, um análogo da AB-FUBINACA, desenvolvido em 2009 pela Pfizer como um potencial analgésico. Entretanto, três anos depois, autoridades japonesas identificaram a AB-FUBINACA como uma potente droga ilícita e, em janeiro de 2014, os Estados Unidos a designaram como uma substância controlada.
Em poucos meses, uma substância análoga, a AMB-FUBINACA, apareceu nas ruas de Louisiana, nos Estados Unidos, como um ingrediente psicoativo dentro de um produto chamado “Train Wreck 2”. Em 3 de julho de 2014, o Estado de Louisiana proibiu o produto por meio de uma regra de emergência.
A maioria dessas drogas são distribuídos como misturas de ervas, especiarias ou material vegetal rasgado pulverizado ou associado a produtos químicos semelhantes ao THC, o ingrediente psicoativo da maconha. Mas, para evitar a regulamentação, os químicos utilizados são mudados constantemente. Isso significa que as consequências de seu uso são imprevisíveis, de acordo com o Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos Estados Unidos.
“Laboratórios clandestinos que produzindo essa droga realmente têm uma grande variedade de escolha, e eles simplesmente passam para a próxima opção que ainda não está regulamentada”, disse Gerona.
Os pesquisadores encontraram mais de 540 substâncias psicoativas no produto, mas eles estimam que a real quantidade seja muito maior. Em sua análise, Gerona e seus colegas constaram que a versão sintética é 85 vezes mais potente que a natural. As amostras de sangue dos oito pacientes mostraram subprodutos da degradação do AMB-FUBINACA. Isso mostra que o produto foi metabolizado rapidamente e mesmo assim os pacientes continuaram a sentir seus efeitos por horas. Uma situação bastante preocupante, segundo os especialistas.
Sintomas
Um paciente tinha um olhar vazio e estava suando, disseram os médicos, embora seus batimentos cardíacos estivessem normais. Seus movimentos eram lentos e mecânicos, e ele tinha “períodos intermitentes de gemidos zumbi”, escreveram os autores.
De acordo com Gerona, o problema dos canabinoides sintéticos é que há uma variedade tão grande deles, mas não há um catálogo específico de possíveis sintomas que formam a base para um diagnóstico. Por isso, quando um paciente aparece na sala de emergência, os plantonistas não têm ideia do que eles enfrentando – ou o quê procurar.
“Este de Nova York foi atípico principalmente para canabinoides sintéticos potentes. Você teria tipicamente toxicidade cardíaca, convulsões, às vezes lesão renal aguda – mas esse paciente não teve nada disso, apenas efeito depressivo severo.”, escreveu Gerona.
De acordo com Gerona, os cientistas por trás do desenvolvimento dessas novas drogas sintéticas estão lendo revistas científicas e examinando patentes expiradas em busca de fórmulas para criar novos canabinoides sintéticos.”O objetivo do nosso artigo é chamar a atenção também para os formuladores de políticas públicas. Há um monte de questões envolvidas no espaço do desenvolvimento de drogas. Este é um problema urgente que precisa de uma solução.”, ressaltou o pesquisador.
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