Conselho de Ética britânico dá sinal verde para alterações no DNA que previnam doenças – mas também deixa portas abertas para fins estéticos
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Gattaca, o clássico de 1997, já tinha colocado o dedo na ferida: mostrava o quão distópico seria um mundo dividido entre seres humanos geneticamente modificados para nascerem “perfeitos” e os “filhos de Deus” – gente com DNA natural, “imperfeito”, que sofre com preconceito e termina alijada do mercado de trabalho. Como previa o filme de Andrew Niccol, o tema avançou bastante no mundo real nos últimos 20 anos. Tanto que já chegamos ao estágio de debater as implicações éticas de criar humanos transgênicos. Agora, o britânico Conselho Nuffield de Bioética deu o seu parecer sobre o assunto e declarou que é aceitável realizar as modificações dede que não sejam prejudiciais às crianças futuras e à sociedade em geral.
Em seu novo relatório, “Edição de Genoma e Reprodução Humana: Questões Sociais e Éticas”, o conselho concluiu que é moralmente permissível realizar o procedimento em um embrião, esperma ou óvulo humano para alterar as características de um futuro bebê. A princípio, o objetivo seria eliminar doenças hereditárias, mas o texto não descartou a hipótese de alterar o DNA para fins não-terapêuticos, como melhorias estéticas na criança, desde que fomente “discriminação ou divisão na sociedade”.
O relatório é importante porque o conselho é extremamente influente no Reino Unido, e no mundo. Há seis anos, a sua aprovação para um tratamento de fertilidade que exigia três pais genéticos para eliminar doenças mitocondriais debilitantes foi o suficiente para que a legislação mudasse, mesmo que a questão ainda gerasse polêmica.
No ano passado, os EUA editaram um embrião humano pela primeira vez, mas o destruíram assim que registraram o experimento. A China é a pioneira no assunto. Cientistas do país á realizaram diversas modificações – que incluíram deixar o embrião mais resistente ao HIV, por exemplo, mas não chegaram ao ponto de fazer nascer um bebê transgênico. Teoricamente, um dia as intervenções poderão ser usadas para gerar crianças mais inteligentes, com melhor memória, mais saudáveis e fisicamente mais fortes.
Na época do lançamento de Gattaca, o marketing do filme achou engraçado publicar anúncios em jornais americanos oferecendo bebês sob encomenda. A propaganda irônica mostrava como você poderia escolher o sexo, a cor dos olhos e até diminuir as chances do seu filho sofrer de calvície precoce. Pelo visto, não estamos tão longe de ver algo assim no mundo real.
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