A liberdade religiosa deteriorou-se e a islamofobia e o antissemitismo continuam a aumentar no Ocidente, conclui um relatório hoje apresentado em Lisboa e que alerta para os crescentes abusos sexuais de mulheres por grupos extremistas.
Orelatório 'A Liberdade Religiosa no Mundo', publicado a cada dois anos pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), organização da Santa Sé, concluiu que, em 2018, se deteriorou a situação dos grupos religiosos minoritários em 18 dos 38 países que já registavam "violações significativas" no anterior relatório (2016).
Numa análise a 197 países, em 11% deles registaram-se perseguições e em 9% discriminação religiosas, com o relatório a encontrar provas de violações significativas da liberdade religiosa em 38 países (19,3%).
Destes, 21 foram colocados no topo da categoria de "Perseguição" e os restantes 17 na categoria menos grave de "Discriminação".
É apontado um "declínio especialmente acentuado" na China e na Rússia e em outros países como a Coreia do Norte, Arábia Saudita, Iémen e Eritreia, o relatório considera que a "situação já era tão má que dificilmente poderia piorar".
As condições da liberdade religiosa melhoraram em apenas dois países: Iraque e Síria, ambos considerados grandes infratores em 2016.
A recuperação de quase todo o território dominado por grupos extremistas, nomeadamente pela organização 'jihadista' Estado Islâmico, na Síria e no Iraque representou "uma vitória para a liberdade religiosa", segundo o relatório.
Na Rússia e no Quirguistão, a situação "agravou-se a tal ponto" que entraram, pela primeira vez, para a categoria "Discriminação".
Por outro lado, registou-se um "acentuado declínio" da violência islamita militante na Tanzânia e no Quénia, que passaram a países "não classificados".
O estudo aponta ainda que a deterioração verificada "reflete o padrão geral, que mostra um aumento da ameaça à liberdade religiosa por parte de atores estatais", de que são exemplo países como Myanmar (antiga Birmânia), China, Índia, Irão, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão e Turquia.
"Na China, todos os grupos religiosos estão em risco se tentarem quebrar os laços com a liderança cada vez mais autoritária. Ao longo dos últimos dois anos, o regime deu novos passos para reprimir os grupos religiosos vistos como resistentes ao domínio das autoridades comunistas chinesas", refere o estudo.
Na Rússia, a grande preocupação são as leis do chamado Pacote Yarovaya, promulgadas em julho de 2016 no âmbito da legislação antiterrorismo e que aumentaram as restrições aos atos de proselitismo, incluindo pregação e divulgação de material religioso, exceto para as expressões religiosas identificadas com a cultura e história russas.
O estudo aborda igualmente a perseguição aos muçulmanos rohingya, em Mianmar, assinalando que este caso se distingue dos demais pela atenção que tem merecido da comunicação social.
Por outro lado, aponta o relatório, as "agências noticiosas ignoraram o crescimento da violência religiosa levada a cabo por grupos islamitas" em países africanos, apontando o Egito, onde os cristãos coptas continuaram a estar sob ataque dos extremistas, ou a Nigéria, onde pastores islamitas "fulani" atacaram comunidades cristãs.
O estudo alerta também para um aumento de casos de abuso sexual de mulheres por grupos e militantes extremistas em África, no Médio Oriente e em parte do subcontinente indiano.
"Muitos 'jihadistas' violam mulheres não muçulmanas e forçam-nas a converter-se. A conversão forçada de uma mulher a outro grupo religioso significa que os seus filhos vão ser criados no Islamismo extremista dos 'jihadistas' e que a escravização sexual das mulheres pelo agressor também impede os nascimentos dentro do grupo religioso da mulher", refere o documento.
O documento aponta sinais do aumento de islamofobia no Ocidente, num contexto de crise migratória e de "recrudescimento dos ataques extremistas na Europa e em outras partes do Ocidente".
"O Islamismo militante foi um dos vários fatores que desencadeou uma forte desaceleração da liberdade religiosa entre 2016 e 2018, pelo menos na Europa, que foi vítima do terrorismo de proximidade", diz o estudo.
O relatório aponta também a existência de provas do agravamento do antissemitismo, o que levou a um aumento do número de judeus que emigraram para Israel.