Oleg Lastochkin
Sob
a orientação da bióloga Constância Ayres, a divisão da Fundação Oswaldo
Cruz em Pernambuco constatou a presença do zika vírus no pernilongo
comum, o Culex quinquefasciatus.
MINISTÉRIO DA SAÚDE DA BOLÍVIA
América Latina requebra na guerra contra o Aedes Aegypti (vídeos)Falando
à Sputnik Brasil, a pesquisadora revelou que o ponto de partida da
pesquisa foi a sua suposição e de outros pesquisadores da Fiocruz de
Pernambuco de que a transmissão do zika vírus poderia se dar, também,
através de outros vetores além do mosquito Aedes Aegypti, também
causador da febre chikungunya.
Assim,
200 mosquitos foram infectados com o zika vírus, e as suas reações
desde então vêm sendo observadas. Os testes continuam sendo feitos em
laboratório, e de acordo com a pesquisadora as avaliações prosseguirão
por mais alguns meses, provavelmente até o final do ano, para que os
cientistas comprovem as suas teses de que existem mesmo outros vetores,
além do Aedes Aegypti e do pernilongo, capazes de transmitir o zika
vírus.
“É
importante inicialmente destacar que essa detecção do vírus zika na
glândula salivar do mosquito Culex, que é a muriçoca comum, foi feita em
laboratório”, destaca a Professora Constância Ayres. “Nós fizemos uma
infecção artificial com essa espécie de mosquito e acompanhamos a
replicação do vírus até alcançar a glândula salivar. Não foi detectada
ainda na natureza a presença do vírus na glândula salivar desse
mosquito.”
A
bióloga da Fiocruz de Pernambuco conta que o que a levou a pesquisar
essa possibilidade é que “no ambiente silvestre o vírus já foi isolado
em diversas espécies de mosquitos de diferentes gêneros, principalmente
do gênero Aedes, mas também mosquitos dos gêneros Anopheles, Culex e
Mansonia, várias espécies de mosquitos silvestres que poderiam
participar na transmissão”.
“Minha
pergunta foi: no ambiente urbano, por que somente uma espécie estaria
envolvida? Como aqui no ambiente urbano nós temos outra espécie que é
muito mais abundante do que o Aedes Aegypti, eu decidi investigar a
possibilidade de essa espécie de mosquito estar envolvida na transmissão
de zika. Daí o nosso interesse em investigar isso.”
Sobre
o procedimento adotado pela pesquisadora, ela revela que sua equipe
cumpriu algumas das etapas que incriminariam uma espécie como vetor:
“Existem
alguns critérios em nossa metodologia que requerem que nós provemos em
laboratório que aquela espécie de mosquito se infecta, permite a
replicação do vírus e dissemina. Outra etapa que ainda está sendo
realizada é a detecção do vírus nessa espécie de mosquito na natureza.
Esta etapa nós ainda não cumprimos. O que nós fizemos foi mostrar, em
laboratório, que o mosquito se infecta e que ele replica na glândula
salivar, o que poderia torná-lo um potencial vetor.”
A
respeito da questão, ainda em aberto, de se ter ou não certeza de que o
zika vírus é responsável pela microcefalia, a bióloga Constância Ayres
afirma que “todos os trabalhos, todos os resultados que temos até agora
levam a crer que exista essa associação. Porém, de acordo com a
metodologia científica, para se ter uma prova final, há que se
acompanhar um grupo de gestantes, um grupo de bebês com a deficiência e
detectar a presença do vírus nesses pacientes, comparando com os bebês
sadios. Com essa associação, com essa análise estatística demonstrada,
isso vai ser confirmado. Mas tudo leva a crer que, de fato, todos os
tecidos analisados até agora e que estavam com indícios de microcefalia e
da associação do vírus – isso realmente se detectou. Acho que estamos
nos encaminhando para ter essa resposta muito em breve”.
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